quarta-feira, 16 de março de 2016

# aos berros



Estamos em novembro de 1992, na cidade de Curitiba, e se vê um Ginásio Oswaldo Cruz abarrotado para a final do campeonato juvenil de basquete.

Era mais do que um Atletiba; era Colégio Marista Santa Maria vs. Colégio Positivo, a maior rivalidade desportiva da capital, numa noite em que se via o "time dos livros" dar uma surra no "time das apostilas".

Sim, o título estava encaminhado, para frustração do elenco positivista, que lentamente sucumbia aos quase vinte pontos de vantagem do nosso escrete. 

Chega o último quarto, e já no começo o inusitado: com o descuido dos dois (!) policiais que faziam a segurança, das arquibancadas lotadas surge um senhor para invadir o jogo.

Aos gritos e gestos, do meio da quadra logo vejo que era o Sr. Vanderlei Barreto, carismático diretor do Positivo (e pai de um colega adversário): ele entra chutando tudo, indo em direção aos árbitros e, com dedo em riste, os acusando de ladrões, canalhas, vendidos e outros epítetos menos nobres. 

Ninguém conseguia segurar o astuto dirigente na sua inventada ira. E mais tumultos, confusão na mesa, os jogadores avançam na arbitragem, um empurra-empurra generalizado, os treinadores quase se digladiando e, finalmente, depois de quase 10 minutos, os policiais aparecem para intervir. 

E o jogo reinicia; e o resto é história: o Positivo vira, vence e é campeão.

Ano seguinte, vejam só, aceito o convite, recebo uma bolsa e me transfiro para o (ex-)arquirrival, a fim de melhor aliar o esporte com o vestibular. Fui acusado de tudo e por todos, mas assim foi.

E eis que no primeiro dia de aula, logo que adentro ao prédio, quem avisto, ao longe? Vanderlei Barreto.

E ele também me vê. 

E, lá do outro lado, já atravessando o pátio em minha direção, no meio daquele mar de estudantes, ele inicia, aos berros: 

- "Gavaaaaa! Ganhei no grito!! Ganhei no grito!! Ganhei no grito!!...", e assim permaneceu urrando, por longos 5 minutos, para delírio da fanática plateia -- e assim fazia, sempre que me encontrava, durante boa parte daquele ano.

Bem, agora estamos em 2016.

E desse modo, também no "grito", uma porção de calhordas, coxinhas e alienados, a reboque da Rede Globo, insiste na convulsão nacional, por meio da caneta de aluguel de um "caçador de marajá" de toga e de um processo de "impeachment" sem fundamento legal.

Na mão grande, sem democracia, sem voto, sem soberania e sem a autodeterminação do povo, a mesma turma de sempre quer o golpe.

A canalhice  que se tenta criar e mostrar como verdade – tudo fruto do ilimitado poder que os donos da mídia ainda detêm mundo afora – visa, apenas, com a chegada do presidente Lula na chefia da Casa Civil, a por fim na potencial ressureição do governo Dilma.

E assim a oposição vagabunda se articula para agir de modo singularmente sórdido, exatamente do tamanho do ódio que a direita sente pela ordem democrática e social vigente no país desde 2002 e, atenção, principalmente pelo enorme temor que a elite sente no combate aos crimes brancos que, como nunca antes nesse país, se faz. 

Ora, órfãos daquele estado para poucos e com uma estrutura institucional colonial, atuam de modo tresloucado na criação de fantoches, de factoides e de um fanatismo atroz, à revelia da lógica, do bom senso e, em especial, do direito.

É, puramente, tudo um teatro de sombras (v. aqui).

Às claras, a abjeta manipulação dos fatos que a grande imprensa nativa e os endinheirados fazem para deglutição da classe média alienada tenta enfiar goela abaixo o fim de um Governo eleito e das suas políticas em curso.

Para, enfim, que tudo seja resolvido na base do grito.

Faz-se a cavalgada do golpe.