terça-feira, 16 de setembro de 2014

# às claras


Já se falou aqui (e aqui, aqui, aqui) de que a tão auspiciosa candidatura de Marina Silva, a nossa "Madre Teresa da Amazônia", é a degradação em potencial da política, com a despolitização da vida pública e apolitização da vida social.

E acho que já foi o suficiente para deixar claro o que significa isso tudo.

É hora de começar a falar do que Dilma e o PT têm feito -- e do que muito mais se precisa fazer. 

E de lembrar, também, de que aqui (aquiaqui e aqui, por exemplo) já muito se criticou este terceiro governo petista. 

Mas, claro, diante do que se tem à mesa não há como sequer comparar Dilma com a sua adversária, e muito menos o PT com legendas como o PSB.

Antes, uma premissa escancarada: o PT é o único partido político minimamente organizado, estruturado e programado deste país. Não à toa, dos outros dez candidatos à presidência, 6 (seis!) estiveram no PT, com sérias e duradouras ligações, saindo dele pelos mais diversos motivos e sob as mais variadas causas e desculpas, verdades e mentiras.

Para um apanhado geral, comecemos pelo assunto mais midiático de todos: "corrupção".

Nunca antes na história deste país se jogou tão às claras sobre o assunto.

Nunca se combateu tanto, nunca se abriram tantas portas e nunca se deixou tanto a claridade entrar -- o sol, afinal, é o melhor desinfetante.

Ora, o combate à corrupção não é mera retórica. Enfrentá-la não é simplificar tudo na base meiga do “é bom ser do bem". Reconhecê-la não se sustenta na ideia de que na política é sempre assim ou no dogma da sua inevitabilidade tropical, como o fruto proibido eterno do lado de cá do Equador.

A questão, pois, está na criação de mecanismos institucionais de controle.

E na não-ilusão de que o mundo dos anjos deveria estar na política ou de que o mundo privado deveria ser exemplo para alguma coisa. 

Inclusive porque está no próprio mundo privado a nascente dos crimes -- a empresa é o "sujeito ativo" do crime de corrupção --, e é neste modus operandi do mundo privado que está, em regra, o segredo da grana e do sucesso. A propósito, foi no Governo Dilma, frise-se, que se criou uma lei responsabilizando administrativa e civilmente as empresas pela prática de atos contra o a Administração Pública.


Nesses quatro anos, o Governo Dilma ordenou à Polícia Federal a mais ampla liberdade de ação -- sim, mandou que tivessem liberdade, por mais estranho que isso pareça.

E se foi a fundo, na medida do possível e na medida dos freios aos impulsos democráticos impostos pelo impávido e colosso Poder Judiciário (v. aqui).

Nesses quatro anos, a Corregedoria-Geral da União -- criada por Lula e que, no âmbito do Poder Executivo, é a responsável pela defesa patrimônio público e ao incremento da transparência da gestão, por meio das atividades de controle interno, auditoria pública, correição, prevenção e combate à corrupção -- investigou e trabalhou com rara intensidade.

Nesses quatro anos, o Procurador-Geral da República -- na chefia de órgão independente que zela pelos interesses públicos, difusos e coletivos da sociedade --, não titubeou em nenhum momento e sob nenhuma circunstância, bem diferente dos anos dourados tucanos, em que tal autoridade ficou conhecida como "Engavetador-Geral da República".

É por isso que as coisas que sempre aconteceram só agora "acontecem", "surgem" e "vazam" -- e ainda bem.


E, claro, é por isso que a sensação é a de que se tem mais corrupção, mais malversações e mais filhos da puta no ambiente das relações público-público ou público-privado.

Evidentemente, os fatos que pululam são um prato-cheio para a grande mídia servir ao público, de modo a desgastar o partido do Governo (PT) e, claro, a Política.

Afinal, não se deixe dourar a pílula: a elite brasileira tem medo, muito medo da Política (v. aqui).

E do povo.

Por isso o Brasil precisa parar de ser hipócrita ou inocente acerca deste assunto.
E os brasileiros precisam parar de achar que tal praga é nosso privilégio ou coisa tupiniquim -- v. aqui, por exemplo --, e de usar qualquer outro argumento que, no fundo, quer apenas retirar da Política a arte de resolver as grandes questões nacionais.

E fazer acreditar, pois, em fadas e unicórnios.

Ou no mercado (v. aqui e aqui).