quarta-feira, 27 de agosto de 2014

# alegorias e sátiras


Pela sopa de coligações, regimentos, alianças e conchavos que conformam a política de hoje, nunca mais o Brasil verá grandes debates, opondo ideias e propostas individualmente claras com dezenas de grandes partidos e as suas máximas e sérias lideranças.
 
Por isso, doravante os debates sempre serão o que se viu ontem: voláteis, vulgares e vazios.
 
Mas, mesmo assim, alguma análise se pode fazer  e v. aqui um bom resumo.
 
A primeira, é da absoluta necessidade de volte-e-meia se ver esta gente que radicaliza. Mas não radicais preconceituosos, reacionários e bandidos, que usam da posição parlamentar ou cívica para blasfemar contra pobres, negros, homossexuais etc., e nem os "radicais de conveniência", que falam apenas para tentar soarem bem, ficando claro que não acreditam numa só gota do que dizem. 

Falo, pois, dos radicais utópicos, heréticos e malditos que gritam contra o pensamento único político, econômico, cultural e moral, como ontem figuraram Luciana Genro (PSOL) e, ainda que de forma meio histriônica, Eduardo Jorge (PV). Eles, se não servem para nada sob o ponto de vista da praxis política, servem ao menos para lembrar que nestes delírios e nessas mais descabeladas fantasias é que reside o "ser" humano.
 
Depois, mais uma confirmação de que o PSDB acabou (v. aqui). 

É claro que o cansado candidato até tentou – e se esforçou, com uma clara evolução pessoal na arte de (tentar) se comunicar –, o problema é que o discurso e a prática da banda demo-tucana realmente faliu, silenciada e soterrada pela história que a revelou como a última grande vendilhona do templo. 

Agora, portanto, só resta saber se o tal Pastor Everaldo ultrapassará Aécio Neves no dia 5 de outubro.
 
Por fim, sobre as duas candidatas que lideram as intenções de voto, duas conclusões.
 
A primeira é a de que a presidenta Dilma realmente não consegue dizer o que pensa, o que faz e o que fará. É, claro, quase um defeito congênito; logo, não tem como se transformar numa brilhante oradora ou transmutar-se para adquirir a verve dos grandes políticos de palanque. 

Corrigiu muita coisa e evoluiu bem, mas Dilma seria imbatível se conseguisse falar, com clareza e fluidez, tudo o que sabe, tudo o que tem feito e tudo o que continuará a fazer no comando e na gestão pública do Brasil. Uma pena, pois, para a pauta progressista em jogo – e para a campanha, que ainda tenta absorver parte dos brancos e indecisos.
 
A segunda, é de que a candidata Marina é mesmo um anjo que caiu dos céus nos braços da direita (v. aqui). 
 
E um anjo inclusive no sentido espiritual, afinal, tem o dom da ubiquidade, de reunir em cada gesto e em cada fala a virtude da comunhão plena, de congraçar tudo e todos num mesmo pote sagrado para alçar-se como a divina providência que salvará o povo brasileiro. 
 
Sim, meus caros, Marina, a nossa Ghandi amazônica, é o protótipo da imaculada política, uma espécie de anti-Maquiavel.

Marina é a "princesa" que toda a massa apolítica tanto e sempre ansiava. 

E que os conservadores, ilustrados pela grande e velha mídia, como nunca esperavam.