segunda-feira, 2 de junho de 2014

# odisseia viva


Rever ou reler aquilo que já revimos ou relemos inúmeras vezes geralmente tem um motivo para além do simples prazer de novas visões ou leituras.

No meu caso, ter revisto "2001: uma Odisseia no Espaço" – a obra máxima do maior cineasta de todos, Stanley Kubrick  foi pelo seu lançamento em blu-ray e toda a tecnologia de som e cores que a nova mídia oferece.

Já havia visto em VHS, em DVD, na TV e, quando da morte de Kubrick, na tela do cinema, em sessão especial oferecida pela Cinemateca de Curitiba  e, desde já confesso, essa última experiência continua sendo a melhor, pelo simbolismo do momento, pela macrointensidade da tela e do som e pelo ambiente sempre especial de uma sala de cinema.

Já assisti meio dormindo, meio com a obrigação de cinéfilo, um tanto quanto ébrio, com ares de estudioso do cinema, pouco empolgado, muito animado, enfim, a incursão por "2001" tem sido bastante variada, a provocar, porém, sempre a reação de se viajar para além da imaginação, e a cada vez por caminhos diferentes.

E, ontem, mais uma vez, o filme foi um desbunde para os olhos.

Afinal, é justamente este o maior fim da obra proposta por Kubrick: criar uma experiência visual que se desviasse do campo das palavras e penetrasse diretamente no subconsciente com um teor emocional e filosófico.

Kubrick insistiu, sempre, em não colocar legendas exegéticas para o filme, tão-pouco roteiros explicativos – negava-os, peremptoriamente. 

Para ele, o filme projetava-se para ser uma experiência subjetiva, intensa, que atingisse o espectador num nível profundo de consciência, exatamente como a música faz  não por acaso, imagem e som formam um único e inseparável meio para olhos e ouvidos. 

Assim, cada um está livre para especular e viajar como quiser sobre o sentido filosófico e alegórico do filme, o que provoca calafrios em muita gente que não suporta ter que desbravar este campo sem a muleta de uma sinopse comentada, a compreensão explícita do roteiro ou as placas anunciativas dos diálogos óbvios, redondos e fechados.

É cinema, é arte e é uma baita forma de deixar a mente pulsar, de abrir as portas.

2001... não é apenas sobre máquinas e inteligência.

É sobre a humanidade e a afeição.

2001... não é uma simples viagem pelo espaço.

É uma odisseia para dentro de você.


Afinal, qual evolução?