quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

# racio símio



Como sempre, o fundo do poço é ainda mais embaixo  e neste momento lembro dos Titãs, na fase "Õ Blesq Blom" da minha adolescência e daquele raciocínio simiesco musicado (o que, já por ora, me faz sentir ofender a inteligência dos primatas não-humanos...).

É que num destes pormenores que recheiam a vida, de novo me deparo com este "big brother brasil", um dos maiores shows de horror televisivo da história do planeta, e que noto sempre se superar.

A cada edição do troço, inclusive, ouso imaginar que o (nosso) fim esteja perto.

Bem, nestes prolegômenos devo antes admitir que, muito pior do que os animais  sim, "zoológico humano" é a expressão usada por gente da própria mídia global quando se refere ao evento e seus participantes – que se expõem naquilo tudo, as piores espécies são mesmo as que assistem, fomentam e sustentam o degradante espetáculo.

Degradante e mendaz, na medida em que, para aquilo tudo que pretende, o programa global é muito mais (hipocritamente) obsceno que toda a programação daqueles canais para "adultos", pois age com dissimulação, desfaçatez e desonestidade.

Finge, pois, ser algo que não é.

Fomenta aquele oba-oba sem sentido como se natural, como se cotidiano, como se o mundo realmente fosse feito daqueles dias e dias de orgia platinada, daquelas noites e noites de venustas festas. 

É, o tempo inteiro, a todo instante, um desfile de carnes sem sentido, à exaustão, para todos os tipos, para todos os gostos; é, num tempo triste, a escatologia na tela aberta brasileira e na voz infausta de um locutor poente.

E como nunca antes, a busca frenética pela grana da audiência abusa de qualquer mínimo sentido e açoita os mais básicos princípios que deveriam orientar um meio de comunicação cuja natureza é de utilidade pública.

Ah, mas o interesse público está justamente no interesse do público em acompanhar o reino animal em estado bruto, puro, selvagem...

Não, não.

Para isso tem-se os canais adequados para se promover e ostentar um ambiente dionísico e de luxúria o quanto quiser e como se queira  afora, claro, os canais da Discovery

Agora, para devassar e arrombar a retina de quem vê TV às dez da noite, isso não é legal. 

É imoral e engorda  pode soar piegas ou carola, mas não vejo como razoável o maior veículo de comunicação do país invadir os lares, em uma hora dessas, para despejar um rio pútrido de frases e imagens com ares de imaculada naturalidade e de inocente diversão.

Se, afinal, é este entretenimento que o distinto público curte, use-se dos canais da "TV a cabo", com suas regras e características próprias, abuse-se dos meios minimamente pertinentes às categorias de sinal, de ambiente, de programação e de horário para expor aquilo tudo  e os urubus e abutres, ávidos pela fortuna do patrocínio publicitário, continuarão saciados.

Mas o que não se pode admitir é a candidez de se promover, à exaustão, mensagens mais ou menos (ou nada) subliminares da vida sem sentido, da contracultura social, da idiotização plena, como se tudo não passasse de uma grande festa sem raiz (e crise) existencial.

Nesta TV, as pedras que rolam são cabeças vazias, para indiscreto delírio dos telespectadores enjaulados em si.

Sim, a jaula está do lado de cá da tela.