sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

# um capitão na terra do nunca


Acabo de assistir "Capitão Phillips" – ótimo, com um Tom Hankgenial , sobre o ataque de piratas somalis a um navio mercante estadunindense.

Mais do que tratar de um tema pouco debatido, o filme é uma lição de globalização, sem pieguice ou moralismo barato.

E também não traz apenas aquela ideia mundialmente concebida que os povos de lá tem das terras de cá  e em especial da terra do Tio Sam , pois vai além e subverte o maniqueísmo excludente que faz nos separar dos "outros".

É verdade, não são meros pescadores os piratas somalis, embora assim se apresentem no encontro com o Capitão; porém, é uma fome o que os move em direção ao sonho americano da bonança e da prosperidade "A América! A América!", festejam assim que avistam a trêmula bandeira do navio, para eles o pendão da esperança.

Da miséria que os une aos templos do capital, a globalização não dá as prometidas oportunidades para todos. 

E separa, e divide, e nos afasta dos "outros" – pois é, parece que a nossa bússola não lhes pertence, não lhes cabe.

Mas, caricaturalmente, aproxima todos num desejo insólito: "Tvs, carros, roupas!?", é isso que os piratas somalis imaginam ter na carga do gigante navio. Mas não. "Só comida...", adverte o timoneiro. 

Ciente da absoluta pobreza naquele território africano, vendo as indigentes condições sócio-político-econômicas daquela gente e imaginando a submissão humana de uma população inteira aos desvarios sanguinários e totalitários de uma meia-dúzia de "escolhidos", não soa estranho assistir ao filme com certa pena dos quatro piratas, tresloucados naquela aventura inglória.

Mesmo que distante da pompa e das circunstâncias dos livros infanto-juvenis.

E mesmo que de perna de pau, olho de vidro, barba ruiva, gancho de mão e papagaio no ombro só lhes restem mesmo a cara de mau.

Caras frágeis, famélicas e falquejadas de mais quatro reféns do mundo. 

No mapa, a verdadeira "Terra do Nunca"