sexta-feira, 2 de agosto de 2013

# baratas, moscas e a lama


E não é que o frustrante "Campus Fidei", aquele ex-local da grande marcha de peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), foi escolhido a dedo por motivos não tão peregrinos assim?
 
Uma das donas do terreno – uma área maior que o bairro de Ipanema – é a multicitada família Barata, aquela mesma que no ano da graça de 2013 finalmente apareceu ao mundo, famosa por ser dona do transporte público viário carioca há séculos e por prestar serviços com "eficiência" e "preços módicos" à população (v. aqui e aqui).
 
E assim, como se numa visão santificada, a Prefeitura e o Governo do Estado convenceram a organização da JMJ de que lá, bem perto de onde Judas perdeu as suas botas, na famosa caixa-prego, nos calabouços desvalidos do município, seria o local ideal para melhor simbolizar o evento. Tudo, é claro, com ares de sacrossanto desinteresse econômico e comercial.
 
O fato de ser área de proteção ambiental? De ser aterro clandestino? De exigir investimento público para preparar a infraestrutura de um terreno de mangue? Ah, detalhes que a jovial marcha e a sociedade não dariam importância.
 
E assim, apesar do cancelamento do evento no local, toda aquela área foi trazida à luz, quase por fórceps, para finalmente (e forçosamente) justificar uma intervenção financeira do Estado.
 
Afinal, com todo o grande coração republicano que lhes acometem, Governo e Prefeitura prometem agora lá investir para criar um grande bairro, para delírio das baratinhas de plantão, que se desbundarão com as reviravoltas da terra naquela região.

E aquele mar de lama que se formou em Guaratiba passa a ter também um sentido figurado.

Mas tudo, claro, é mera coincidência.

Como também é absoluta coincidência a reviravolta do caso "Maracanã", justamente num momento em que a pressão sobre o Governador atinge níveis bizarros e que o distinto público deu claros sinais de que não pagará o valor dos ingressos que o consórcio achava que poderia cobrar (e muito lucrar). 
 
Em três jogos, prejuízo inesperado e a expectativa de que encheria o estádio com R$ 100 per capita foi frustrante, assim como os reveses dos negócios anexos ao Estádio, que fizeram o grupo privado se compadecer com a situação de inimigo público imposta a Sergio Cabral.
 
E neste cenário, como se iluminado pela luz dos anjos e do Papa, o próprio Governador resolve rever algumas questões do contrato de concessão do ex-Maracanã. 
 
Sim, séculos e séculos depois de muitos estudos, de muitas discussões e de muitas reuniões, quando já tudo resolvido e enfiado goela abaixo, resolve-se que alguns "conceitos" merecem ser revistos. E sobrou até para os quase-índios, em vias de serem reincorporados à terra sagrada. 

E diante de tudo, o consórcio recuou, estrategicamente, coincidentemente. E ardilosamente desejado? 

Ora, é claro que ter uma velha opinião formada sobre tudo não é sempre legal, e que a metamorfose ambulante é por vezes fundamental.
 
Porém, "ai, porém...", há casos diferentes. 

Há situações em que os sujeitos apenas se fantasiam de camaleão, e a mimetização, portanto, é falsa, é dissimulada, é trapaceada, é de araque. 

No caso, uma antiarapuca da incompetência privada, que se recusa a engolir as moscas no meio de mais outra lama.