sexta-feira, 21 de junho de 2013

# e assim caminha a humanidade (xxi)


Enquanto isso, num despretensioso café expresso com um amigo, ele me conta mais uma da “turma das passeatas”, destes caras pintadas 2.0, versão hi-tech, que, ingênuos, empurram o cavalo troiano do golpe.

Falava da reunião de umas 30 pessoas que tratavam de organizar a primeira “manifestação” (sic) em uma pequena cidade fluminense. Era um microcosmos deste negócio todo.

Para o encontro, o grupo convidou o irmão do meu amigo para documentá-la, na qualidade de jornalista.

E assim seguiu a conversa entre os jovens, na íntegra, sem exageros:

- Então!? Sobre o que vamos protestar? – grita um, abrindo a pauta.

- Pois é, sobre o quê? – todos, em uníssono, emendam.

Ao fundo, por alguns minutos, só grilos e toques de SMS...

- Galera, pô, a gente precisa saber sobre o que vamos gritar e escrever! – esbraveja o líder.

- É!!! O que vamos reivindicar?! Senão não dá, né!! – diz outro, meio preocupado, meio revoltoso.

- Hein, a gente podia falar sobre o preço do ônibus mesmo... – define o organizador, limpando o suor com a manga da sua camisa polo da marca do jacaré.

E a resposta vem na hora, todos juntos vibrando: “Isso!”, “Boa!”, “Fechado!”, "Legal, vou por no Face!"

- É! E fica até mais fácil, já que tá todo mundo falando nisso, né!! – resume o mais gordinho, largando o canudo do milk-shake.

- Então pronto... Ei, mas tem um problema galera! – adverte um deles.

- Qual? – emenda a guria, enquanto fuçava no i-phone.

- Alguém sabe o preço da passagem?

Silêncio geral.

E vai todo mundo com seus smartphones, no Google, procurar saber.

- Parece que é R$ 2,50... Não, acho que não... Peraí... É, é, aqui, R$ 2,65! – diz um, meio sem segurança.

- Não, é R$ 2,50 mesmo! – fala um deles, com a bandeira do brasil simetricamente amarrada no pescoço.

- Cara, mas de que ônibus vocês estão falando?  – confessa um, na lata, pouco antenado.

- Hein, tá errado, tô vendo aqui, achei... é R$ 2,70! – diz outro, com ar de arqueólogo.

Diante da confusão, o líder da tal blusa do jacaré se irrita:

- Hei! Atenção! Assim não dá! A gente precisa saber certo pra escrever nos cartazes, porra! Senão vai sair preços diferentes e vai ficar estranho, parece que a gente não sabe do que ´tá falando!

Outro minuto de silêncio.

E todos caem no riso.