terça-feira, 5 de outubro de 2010

# navegar é preciso



fds As medidas anunciadas recentemente em Cuba não significarão o fim do socialismo, e não se tratam, em absoluto, de mera conveniência midiático-política.

fds Muito mais que uma forma ou um sistema sócio-político-econômico – e muito menos que uma mera utopia mecanicista –, o socialismo é um valor. E, por isso, já enraizada numa sociedade que há 50 anos vê-se construída sobre pilares éticos e principiológicos, públicos e privados, comunitários e particulares, bastante diferentes daqueles sob os quais as sociedades capitalistas – auto-afirmadas evoluídas – firmam-se.

fds Tratá-lo um ser humano como um ser político e coletivo por natureza, reafirmá-lo como livre e igual e fazê-lo fraterno e solidário, foi, senão os maiores, os grandes méritos da revolução e da reconstrução do Estado e da sociedade cubanos.

fds Tanto para aqueles que pensam Cuba como uma falida e falsa ilusão, como para aqueles que zombam por pretenderem-na o protótipo imaculado do paraíso, neste nosso sideral espaço virtual já nos debruçamos e pusemos a nu os gravíssimos erros de tais concepções (v. aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
 
fds Ora, acreditar numa ou noutra definição, absoluta, é, antes de tudo, ser uma besta quadrada, pois, como tudo que transcende o dogmático, Cuba tem erros e acertos, é exemplo e mau-exemplo, é êxito e fracasso.

fds As propostas e as medidas de despedir meio milhão de trabalhadores estatais, de incentivar as pequenas iniciativas privadas, as cooperativas e os trabalhos autônomos, de absorver as evoluções tecnológicas, de reduzir ou eliminar gratuidades e subsídios indiscriminados, de ampliar o mercado interno, de promover o arrendamento de terras e de pequenos estabelecimentos a seus trabalhadores, de potencializar os seus recursos humanos altamente qualificados, de coprotagonizar as técnicas tributárias e monetárias, e de flexibilizar o trânsito de cidadãos. A grande meta – tardia, sublinhe-se – de tais políticas é recuperar a sustentabilidade e a eficiência da economia cubana, que vem se deteriorando aceleradamente desde a franca recuperação pós-Período Especial – como se denomina a época que se seguiu à queda da União Soviética – e, em especial, normalizar os efeitos causados pela hipertrofia do sistema comunista como projeto socialista.

fds Tais idéias – idéias postas em prática –, em nada, porém, se confundem com a perda do poder estatal, com a perda da propriedade pública sobre os meios de produção fundamentais e, principalmente, com a perda dos valores socialistas, tão impregnados na sociedade e tão cruciais para as políticas públicas do país.

fds E, por isso, tais transformações têm no protagonismo popular pluripartite (forças populares, sociais, sindicais, estatais etc.) o seu foco e a sua força causal, e não no tecnocracismo que despreza o consenso real e os interesses legítimos dos diversos atores sociais – bem distante, portanto, do que se costuma observar nas ditas "democracias ocidentais".

fds Nunca a definitiva solução ou a cega negação, o socialismo assente no comunismo cubano é um caminho, um caminho de todos e um camiño muito mais justo, sempre sob a inolvidável máxima que exige “de cada um segundo as suas capacidades e a cada um segundo as suas necessidades”...