quinta-feira, 3 de junho de 2010

# patuscada


Uma vergonha.
 
Muito mais do que isso, descabem numa bula os adjetivos necessários para (des)qualificar a folga, o folguedo, a folgança, o "oba-oba" promovido pelo atual Governo do Paraná -- e sabe-se lá por mais quantos governos e prefeituras Brasil afora --, que simplesmente decreta esta sexta-feira como "dia facultativo" ou como "rodízio".
 
O que é isso companheiro?
 
Com nariz de palhaço, amigos, inimigos, familiares, cunhados, súditos, amantes, concubinas, mordomos, motoristas, sogras, papagaios e afins, todos em volta olham e não entendem as razões pelas quais isso assim funciona.
 
E muito menos eu.
 
O pior é que ao meu redor profissional -- salvo solitárias (e solidárias) exceções -- não vejo revolta, indignação, crises e bate-bocas. Nada. A turma toda parece delirar, derreter-se, achar o máximo... Não, não.

Na verdade é mais estranho do que isso. Na verdade, ela nem comemora. Sério. É que a velha guarda estatal -- e a juventude viciada -- realmente age como nada de mais houvesse nesta espúria emenda farrancha.
 
Sim, para (quase) todos esta sexta-feira é feriado, deixando o negócio ainda mais kafkaniano.
 
Toda essa gente não percebe que esta atitude somente contribui para manchar o Estado, que isso desabona ainda mais cada servidor, que isso corrói ainda mais a imagem sempre distorcida da Administração Pública, afinal, como sabemos, qualquer deslize estatal é execrado e, quando ele mesmo é conscientemente o agente provocador, torna tudo ainda pior e mais difícil.
 
Alguém já parou para pensar que tal medida não pode ser mais assim encarada, com tamnha simplicidade e normalidade, uma vez que atinge frontalmente a eficiência e a moralidade da Administração Pública, somente para ficar em dois dos seus princípios constitucionais reitores?
 
Alguém já parou para refletir que isso é inadmissível e incompreensível se se quer mostrar (e provar) que o Estado pode (e deve) estar num mesmo patamar de capacitação e eficiência administrativa que a iniciativa privada? Alguém concebe qualquer negócio privado parar, simplesmente parar num dia normal de trabalho e dar folga (quase) geral para os seus trabalhadores? Isso certamente não se traduziria numa gestão eficaz, ainda que, convenhamos, tal decisão privada não nos devesse respeito.
 
Portanto, é mais do que isso, pois estamos no âmbito público, a servir o público e a pensar (e a tutelar, a promover...) a coisa pública. Logo, fingir ser um feriado e liberar geral é imoral, pois ofende o interesse em jogo e admite que o servidor receba sem trabalhar. Faz-se, pois, a sinecura.
 
E não me venham com a cantilena de que isso é normal por ser excepcional (sic). Ora, não podemos admitir a perpetuação na cultura estatal (ou popular) desse tipo de coisa por mais isolada que seja.
 
Se isso existia, acabemos com isso. Se era habitual, que se enterre tal prática. Se naquele Estado brasileiro absolutamente enfadonho, patrimonialista e inchadamente vazio de até 15 ou 20 anos atrás tal medida era natural, hoje é artificial, sintética, patética.
 
Bem, eu havia prometido que ficaria um tempo sem aqui escrever, mas a situação foi mesmo irresistível.
 
E, diante dela, em todo este dia de "feriado", prometo ficar, de terno e gravata, aqui rabiscando, a postos neste meu sideral espaço virtual, na sempre defesa e promoção do Estado, o qual, insisto, é absolutamente vital para o desenvolvimento da nossa sociedade.
 
Mas, por favor, desde que seja "eficiente" e "moral" (e, claro, "legal"), sob pena daquele famoso mote da direita -- "Hay gobierno? Soy contra!" -- jamais ser definitivamente enterrado.