terça-feira, 22 de dezembro de 2009

# aspas (xxix)

Recentemente, o escriba (e fariseu?) Nêgo Pessôa fez uma das maiores declarações de amor já vista neste trópicos.

Era uma jura de amor eterno e total.

E acertou a mão, em cheio, como de regra acontece quando ele trata do cotidiano, dos modas e das modas e da vida, como ela é -- nessas áreas, a sua verve é ímpar (v. aqui).

Mas atenção, o Ministério da Saúde adverte: se o assunto for política-economia-sociologia-e-direito, data venia, fuja do nobre escritor, para o bem de todos e a felicidade geral da nação...
fds
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A caminho da senectude (maravilhosa palavra) me tornei um comedor de pão. Ontem, depois de fazer a barba, tomar banho, me produzir, fui ao Marcolini, na praça Espanha; mandei descer o estoque. Comprei todos os pães. Tenho pão até 2014, ano da copa no Brasil – se não houver acidente.


PÃO&CIA
Gosto de pão de qquer jeito. E em todas as companhias, especialmente nas más, não abonadas pelas tradicionais famílias curitibocas. Gosto de pão a sair do forno, a queimar dedos&língua; gosto de pão dormido, de ontem; gosto de pão ao ponto, mal passado; gosto de casquinha de pão e gosto também da árdua casca do pão italiano, rústico, excelente teste para as renovadas arcadas.

PÃO S/A
Gosto de pão com manteiga e pão com margarina. Mas gosto também de pão sem manteiga e de pão sem margarina… como o Fernando Sabino jurava q viu em Portugal. E no azeite, então? E no azeite com sal&pimenta? E no sal? E na pimenta? E afogado no grosso caldo de feijão preto? E na minestra generosa? E nos molhos nos fundos dos pratos?

PÃO MATABORRÃO
Ah! O pão mata borrão! E no café com leite q minha mãe deixava pronto antes de partirmos de calças curtas pras aulas das manhãs frias do inverno iratiense? E o pão no vinho da italianada civilizadora? E o pão abrigo da cebolada dos nossos adoidados polacos? E o pão sírio? Filho da puta! Refratário ao enxuga-encharca-absorve! E as broas? Com miolo a 1000 graus Celsius! Com manteiga a se derreter? E as surubas, ié, e os sanduíches?

PAUSA PRA INTOLERÂNCIA
Não tolero pão de hamburger, pão só miolo como a faca só lâmina do poema do João; aposto q aquela carne moída melhoraria muito entre metades do velho de guerra pão dágua. Varrido do mapa pelo – filho da puta! – francesinho.

(...)
As vezes vou a Saint Germain só pra comprar pão dágua. As vezes desconfio q sou o último dos moicanos comedores de pão dágua. Estou tentado a armar confraria ou sociedade secreta dos comedores de pão dágua. Amo os perdedores. Tenho alma compassiva. Nos reuniremos nas catacumbas e compartilharemos irmamente, fraternalmente, o pão dágua q se extingue não com uma explosão, mas com um suspiro. Para degustar o pão v tem de mastigá-lo bem, com paciência, calma. Capriche."
fds