segunda-feira, 12 de outubro de 2009

# cem coxas e um goleiro


Era 1985 e eu, de muita tenra idade, já era capaz de entender e saber o jogo, mas não o mundo-homem. Naquele, uma final de campeonato brasileiro, a inocente infância ainda impedia de, imaculada por quaisquer dos pecados capitais, sofrer na torcida pela desgraça da equipe que ali vestia verde-e-branco.

E eis que naquela noite e naquele palco, do primeiro ao 120° minuto da partida, pude acompanhar uma das mais espetaculares partidas feitas por um jogador em toda a minha vida.

Talvez motivado pelo recente passado em que ele esteve no amado clube, os meus olhos viam incrédulos um sujeito ter uma atuação fenomenal, deslumbrante, soberba.

A pegar tudo -- ou quase tudo, pois um estranho e despretensioso chute acabou entrando --, tornou-se o grande responsável pelo resultado final daquele jogo, cujo épico desempenho mostrava-se digno de lhe valer uma placa, um busto, uma estátua, afinal, não apenas gols deveriam merecê-los, mas a sua antítese, pela magnânima arte, também é-lhes credor.

Mais do que isso: parecia a encarnação de alguma divindade abençoada pelos supremos deuses das metas. Por cima, por baixo, ao longe, de perto, à direita, da esquerda, pelo centro, por trás, pela frente... os milagres deslumbravam a mim e a todo o estádio que contra ele torcia. Já era um mito eterno, impávido e colosso.

Num dos grandes goleiros que vi jogar, Rafael Camarota, as minhas homenagens aos coxas, neste pouco pródigo ano de centenário.
fds