quinta-feira, 2 de julho de 2009

# missiva cibernética: os vermelhos, em dois mil caracteres

Um caro amigo aventura-se numa longa jornada, pelos rincões do leste europeu.

E, já lá, quae sera tamen, resolve adentrar no universo sócio-político-econômico daquela região, especificamente nas estranhas do tipo de regime socialista implementado e quebrado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no séc. XX.

E, na bucha, pelos meios virtuais de plantão, diz-me, curto-e-grosso: "Prezado amigo, escrevo de São Petesburgo ao amigo que sei que conhece e gosta dessa terra. Desculpe a minha ignorância, mas se vc puder me explicar, em poucas palavras, a diferença entre o socialismo e o comunismo, serei grato. Depois nos falamos. Um abraço!"

Eis a resposta, modesta, e que (talvez) também sirva a tantos e tantos que ainda não sabem direito o que é tudo isso...
"Compañero, o comunismo é um nome que pode se dar à sociedade sem classes sociais, sem Estado, sem uma economia mercantil monetária, sem o trabalho alienado, com a coletivização dos meios de produção e com uma sociedade muito desenvolvida, particularmente em termos humanos, a fim de que possa revelar um 'novo homem', como dizia El Che, sob a clássica máxima marxiana: 'De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades'. Só que não é possível atingir tal sociedade num passe de mágica e da noite para o dia, pois a insuficiência no desenvolvimento das forças capital-produtivas e dos donos do poder e as heranças material e cultural não o permitem. Para que se chegue ao comunismo é necessária uma etapa anterior de transição: o socialismo. Nele são fixadas as diretrizes, montados os programas e preparada a transformação social para a construção do comunismo, com um estado concentrador, para que no segundo houvesse a sua supressão, passando a reger uma democracia direta e de autogestão. Na verdade, em termos clássicos, havia ainda uma outra fase, previamente ao socialismo e logo depois do fim do capitalismo, com a 'ditadura do proletariado', como na URSS e em todo o leste europeu -- fórmula autoritária, sob um partido único e que  descambou para algo muito distante do socialismo. O caso mais conhecido e presente desta 'alternativa' é Cuba, onde o socialismo logrou sim êxito e a cada dia avança no zelo pela saúde, pela educação, pela habitação e pela segurança de sua gente, não obstante as imensas dificuldades -- muitas advindas do embargo econômico dos EUA e da dependência financeira que criou com a URSS, outras da sua estagnação no tempo, amarrada demais às ideias fundantes do regime. Modernamente, a China constrói uma outra via, assente num antigo 'socialismo de mercado' (ou num 'capitalismo de Estado', que depois podemos discutir...) e a Venezuela e outros países latinos também tem desenvolvido alternativas ao capitalismo, com vistas à construção de um modelo de socialismo do séc. XXI, já é merecedor de estudos de muita gente boa. Muito breve e superficialmente, é isso. Espero ter ajudado. E traz umas wodkas de bolso pra mim. Até!"