sexta-feira, 10 de julho de 2009

# maquiavel, en passant


Voltemos àquela impactante frase -- "faço aliança até com Satanás se for para fazer a obra de Deus" --, que parece ser paradoxal, mas que bem traduz a complexidade desta arte&ciência chamada Política. Senão vejamos.

Suponhamos que você, um grande homem do bem e um grande homem de boa vontade, pretenda candidatar-se a Chefe do Executivo. Pensemos que queira ser Prefeito de um certo Município.

Logo, temos então você: um homem íntegro, inteligente, sagaz, trabalhador, socialista&humanista de alma e coração, que quer chegar lá para efetivamente (tentar) mudar a vida naquele muncípio, investir pesado em educação (centros educacionais), saúde (centros médico-hospitalares), habitação e, com a guarda municipal, colaborar com a segurança pública. Além disso, tem excelentes projetos para a iniciativa privada, para as cooperativas e para as associações. Enfim, você é o cara.

Mas, tem um problema: você não tem grana. E, como sem grana (e, ipso facto, sem espaço na mídia) ninguém se elege no Brasil, pergunta-se: che cosa faccio?

Aí, eis que surge a oportunidade de, mediante as amizades que você tem com algumas pessoas ligadas a certa política e ao capital, se relacionar e se aliar a um grupo tosco -- quase da direita --, mas com muito dinheiro. E mais: surge a oportunidade de a sua campanha ser bancada por um grande empresário que, em troca, quer facilidades em 2 ou 3 futuros contratos públicos, para minimizar ou zerar o financiamento da sua eleição.

Na balança, temos você, um cabra da peste, sujeito dos melhores, que teve que ceder para se eleger e mudar a vida de 70% do município, formado por gente miserável e explorada; e o outro, da turma dos mesmos, conservador, patrimonialista e da direita até o talo, de oligarca família da região, que sempre se elege do mesmo jeito e que nada mais quer do que se manter intocável como os donos do poder, numaa elite que corrói todo o tecido humano e social daquele município, que tem os seus 70% na mais tosca pobreza e nas mais bizarras privações.

O que seria o certo? Quem seria o errado?

Há 500 anos, Niccolò Machiavelli já se debruçava bastante sobre isso, contrapondo ativamente as éticas política e cristã, cujo antagonismo, entretanto, nem sempre se pode permitir existir.