segunda-feira, 6 de abril de 2009

# dois pesos, duas medidas

fdsEra uma vez, numa manhã de um dia da semana qualquer no escritório em que era sócio de uma banca de advogados -- antes, portanto, do exílio europeu, das aulas e do mundo público --, eu e amigos víamos boquiabertos a capa da "Folha de São Paulo", numa foto de meia página, que lá trazia Fernando Henrique Cardoso (FHC), de braços abertos, não sob a Guanabara, mas perante o Congresso Nacional da França.
fdsAli, no escritório -- todos tapados pela cegueira branca que contagiava, com o discurso neoliberal, meio mundo --, lembro-me muito bem que estavam todos maravilhados com a cena, todos a elogiar o homem que era aplaudido de pé pelos parlamentares gauleses. Nos jornais televisivos, todos a exaltar a conduta do grande chefe de Estado brasileiro. Viva! Nas Folhas seguintes, o fato era curtido até rançar. Bravo! Na "Veja" daquela semana, fotos e frases daquele momento -- e de outro, no qual o presidente demo-tucano estava de fraque num jantar no Palácio de Buckingham -- eram destacados nas mais diversas partes da revista. Olé!
fdsSim, o lord FHC, aquele que ajudou a vender por 30 moedas o Brasil, era considerado o grande gênio nacional, o nosso salvador, e aquela cena, estampada na capa daquele jornal, era apenas a consagração disso tudo. Éramos uns boquiabertos tolos.
fdsPassados quase 8 anos, eis que agora, quando o Presidente Lula é considerado pelo mais poderoso governante do mundo como "o cara" e o "mais popular político da Terra", a repercussão e a consagração é relativizada, exaltando-se pejorativamente a frase final de Obama a Lula ("ele é boa pinta"). Agora, não vejo a mesma exaltação, o mesmo delírio e a mesma reverência neste fato -- muito mais significante, pelas circunstâncias políticas que o cercam -- quando comparadas àquele primeiro.
fdsOra, por que não se reconhecer que o atual presidente do Brasil tem uma moral, uma presença, uma importância e uma responsabilidade perante as outras nações que nunca nenhum outro teve? Por que as palavras de Obama e a fotos ao lado da rainha Elizabeth não mereceram a mesma exaltação daquele lânguido momento do queridinho dos donos do poder?
fdsAh, deve ser -- como veementemente (e preconceituosamente) afirma um grande amigo meu -- porque ele não passa de um ex-metalúrgico estúpido e ignorante...