segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

# pra não dizer que não falei das flores

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), como um movimento social do campo, do povo da roça, de trabalhadores rurais e de agricultores e camponeses familiares pobres e expulsos pelo latifúndio, sempre foi visto pela sociedade a partir do antidemocrático olhar de uma grande mídia que se encontra a serviço dos aparelhos ideológicos da elite nativa e que dominam o modo de pensar e de agir de toda a sociedade. Se alguém ou um grupo social fugir dos padrões de comportamento por eles fixados, nasce o conflito de interesses e o conflito de classes. E, por fugir dos padrões impostos pela sociedade dominante, desde o seu surgimento a população brasileira enxerga-o com certa desconfiança, desdém ou ódio.
 
dfds Em 1984, numa conjuntura de embates pelo fim da ditadura militar e da direita, pela abertura política e de mobilizações operárias e culturais, aproximadamente 100 trabalhadores rurais de mais de dez Estados da Federação concluíram que a ocupação de terra era uma ferramenta fundamental e legítima na luta pela democratização da terra e saíram com a tarefa de construir um movimento orgânico e nacional, fazendo nascer o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), hoje o maior movimento social da América Latina e exemplo mundial de independência, persistência e justa luta.
dfds Assim, formaliza-se a construção de um movimento que tem como pontuais fins: a luta pela terra, a luta pela Reforma Agrária e um novo modelo agrícola, a luta por transformações na estrutura da sociedade brasileira e a luta pela criação de um projeto de desenvolvimento nacional com justiça econômica e social, ou seja, diretrizes absolutamente normais e naturais para um Estado que queira, seriamente, cumprir o que hoje está disposto na nossa Constituição, em seus artigos preliminares, como fundamentos -- a "cidadania" e a "dignidade da pessoa humana" -- e como objetivos -- a "construção de uma sociedade livre, justa e solidária", a "garantia do desenvolvimento nacional", a "erradicação da pobreza e da marginalização", a "redução das desigualdades sociais e regionais" e a "promoção do bem de todos" -- da República Federativa do Brasil, ou mesmo no que diz os também pouco efetivados artigos 184 e 186 da Carta Magna, ao se referir à "função social da terra" e determinar que, se violada, a terra seja desapropriada para fins de Reforma Agrária.
dfds Após 12 anos dos governos fernandistas -- o primeiro comprometido com os ruralistas e latifundiários e o segundo com o neoliberalismo --, o Brasil sofreu, fazendo crescer a pobreza, a desigualdade, o êxodo, a falta de trabalho e de terra. Com a eleição de Lula, a expectativa não se traduziu na prática, não se gerando mudanças significativas na estrutura fundiária, no modelo agrícola e no modelo econômico.
dfds Defenestrada pela mídia golpista, a qual nada mais representa senão os interesses da elite nativa, a população pouco conhece do MST e generaliza-o, pensa-o como um bando de vândalos ou vagabundos. Ledo engano. Bem como advogados, jornalistas, magistrados, empresários e políticos, também há trabalhadores rurais descomprometidos com a ética, a moraldiade, o interesse público e o interesse coletivo -- ouso dizer, inclusive, em muito menor parte... Todavia, em sua ampla maioria, são homens e mulheres dignas e são líderes sérios que apenas almejam uma nova realidade agrária brasileira, com a mais absoluta justiça.
dfds Todos os países considerados desenvolvidos atualmente fizeram reforma agrária. Em geral, por iniciativa das classes dominantes industriais, que perceberam que a distribuição de terras garantia renda e trabalho aos camponeses, o que formou um mercado nacional nesses países, criando condições para o salto do desenvolvimento. O maior exemplo disso foi os EUA que, no final do século 19, com uma economia do mesmo tamanho que a do Brasil, promoveu uma intensa reforma agrária e, em 50 anos, alcançou uma enorme força industrial, via aumento da qualidade de vida e do poder de compra do povo.
dfds Hoje, o MST está organizado em 24 estados, onde há 130 mil famílias acampadas e 370 mil famílias assentadas, organizando os pobres do campo e continuando a luta pela Reforma Agrária, pela construção de um projeto popular para o Brasil, baseado na justiça social e na dignidade humana, e que priorize a produção de alimentos, a distribuição de renda e a construção de um projeto popular de desenvolvimento nacional. Porém, depois de 500 anos de lutas do povo brasileiro e 25 anos de existência do MST, a Reforma Agrária não foi realizada no Brasil. Os latifundiários, agora em parceria com as empresas transnacionais e com o mercado financeiro – formando a classe dominante no campo - usam o controle do Estado para impedir o cumprimento da lei e manter a concentração da terra.
dfds Enfim, a grande ação do MST não está nas ocupações e nas suas legítimas indignações, mas no ato de ensinar para toda a sociedade brasileira de que o campo e o mundo camponês estão em movimento, a exigir um novo modo de pensar o país.
ffds Logo, não se pode simplesmente ignorar sua existência. Ele existe e traz um novo modo de ver as relações sociais, sempre ensinando e lembrando, por meio dos atos, dos fatos, da linguagem, das marchas e dos símbolos, que se pode ter esperança na sociedade brasileira, pois, a questionar as estruturas sociais e a cultura política-econômica vigente, está a afirmar a sua vocação filosófica de formar novos sujeitos coletivos e históricos que venham realmente construir um Brasil não apenas de todos, mas para todos.