segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

# quo vadis, huracán? (xv)

A epopéia se encerrou como já esperávamos: estádio lotado, torcida ensandecida e um futebol total, absolutamente comprometido com raça e gols símbolos maiores do Clube Atlético Paranaense. E o nosso time, na tarde deste domingo, teria sido mágico se não tivesse sido tão real.

Sim, o Flamengo tremeu. O Flamengo parecia um Olaria, um Bonsucesso, um São Cristóvão, tamanho era o semblante amedrontado de seus jogadores, tamanha era a postura acuada do seu time e tamanho era o massacre técnico, físico, tático e, principalmente, moral, que o Atlético impunha em campo. Sim, finalmente o Atlético voltou a ser o "furacão" e a Arena da Baixada voltou a ser o temido "caldeirão".

Dentre tantos personagens deste jogo, houve dois maiores, excepcionais.

Um, o nosso mais novo príncipe etíope, o nosso deus da raça, o valente Valencia, colombiano de aura vermelho-e-preta, um negro cujo sangue rubro bem mostra a sua melhor identificação com o Atlético: a entrega absoluta e a dedicação total que nos dá a certeza de que nunca perderá um lance.

O outro, a peça que faltava e que sempre pedimos: o paraguaio Julio dos Santos, o craque, o cérebro, o armador, aquele que pensa e pára o jogo, como se fosse o senhorio absoluto daquele campo.

Claro que houve Alan Bahia, Alberto, Netinho, Antonio Carlos, Rodolpho e Chico -- e mesmo Julio Cesar, Rafael Moura e Zé Antonio, pelos gols --, mas os dois gringos foram geniais, e, a ambos, muchas y muchas gracias.

Porém, em termos gerais, este "título às avessas" deve ser dedicado e agradecido a três outros homens, que certamente hão de integrar um seleto rol de heróis rubro-negros: o goleiro Galatto, o técnico Geninho e o preparador físico Moraci Sant'ana, todos tecnicamente impecáveis e absolutamente dedicados no cumprimento do nosso maior objetivo, em cujas obras os milagres mostraram-se freqüentes e capazes de honrar as nossas cores.

Digo, enfim, que essa vitória e esse título tem sim um sabor até maior do que o "mero" título nacional dado ao campeão, por uma séria e única razão: o título com a primeira colocação é, em poucas semanas, esquecido, apenas guardado na memória, nas estatísticas e na camisa; porém, o título conquistado neste domingo transcende as próximas semanas e alcança todo um ano, consegue trazer a alegria de sabermos que não passaremos todo 2009, em cada uma de suas semanas, a lamentar o fato de estar no limbo, no inferno e na humilhação da segunda divisão -- ou seja, nossos adversários não terão o gosto de nos humilhar, por longos 300 dias, a cada jogo de terça ou sexta-feiras e a cada jogo contra Goiatubas, Bragantinos e CSA's. Aleluia, aleluia!

"Quo vadis, huracán?", era a pergunta que, como Jesus Cristo a Pedro, nós fazíamos ao Clube Atlético Paranaense.

E a resposta veio, em uníssono: permanecerei no lugar donde nunca poderei sair, ou seja, a Primeira Divisão do futebol brasileiro.
fds