sábado, 4 de outubro de 2008

# o pretérito perfeito da crise

Para explicar toda essa zorra -- na verdade um dominó que está (?) por pegar o nosso país, repousado no último nível trófico dessa cadeia alimentar-financeiro global --, há 30 anos já se cantava a ciranda (ou carrossel) da crise (que crise? ora, qualquer crise, já bem ao gosto da "imprensa" golpista nacional...). Assim, eis o que escreveu Chico Buarque, numa adaptação da obra de Bertold Brecht e Kurt Weill, com o título "O Malandro":

O malandro / Na dureza / Senta à mesa / Do café ---- Bebe um gole / De cachaça / Acha graça / E dá no pé
O garçom / No prejuízo / Sem sorriso / Sem freguês ---- De passagem / Pela caixa / Dá uma baixa / No português
O galego / Acha estranho / Que seu ganho / Tá um horror ---- Pega lápis / Soma os canos/Passa os danos / Pro distribuidor
Mas o frete / Vê que ao todo / Há engodo / Nos papéis ---- E pra cima / Do alambique / Dá trambique / De mil réis
O usineiro / Nessa luta / Grita(ponte que partiu) ---- Não é idiota / Trunca a nota / Lesa o Banco / Do Brasil
Nosso banco / Tá cotado / No mercado/Exterior ---- Então taxa / A cachaça / A um preço / Assutador
Mas os ianques / E seus tanques / Têm bem mais / O que fazer ---- E proíbem / Os soldados / Aliados / De beber
A cachaça / Tá parada/Rejeitada / No barril ---- O alambique / Tem chilique / Contra o Banco / Do Brasil
O usineiro / Faz barulho / Com orgulho / De produtor ---- Mas a sua / Raiva cega / Descarrega / No carregador
Este chega / Pro galego / Nega arrego / Cobra mais ---- A cachaça / Tá de graça / Mas o frete / Como é que faz?
O galego / Tá apertado / Pro seu lado / Não tá bom ---- Então deixa / Congelada / A mesada / Do garçom
O garçom vê / Um malandro / Sai gritando / Pega ladrão ---- E o malandro / Autuado / É julgado e condenado culpado pela situação.