quinta-feira, 30 de outubro de 2008

# humor líquido


O ato de chorar pode ter variegadas raízes e múltiplas consequências.
Há o choro pela perda da mulher amada. Esse é o choro melancólico, o choro por não ter feito o que deveria fazer, por não ter sido o que deveria ser, por não ter dito o que deveria dizer, por não ter compreendido e por não ter correspondido -- ou, simplesmente, por ter sido trocado por outro, como se fôssemos uma blusa.
Há o choro sulfuroso, de ódio, que sai quente, amargo e rasgado, como co-expressão corporal da ira, e o choro falso, que tem na lágrima crocodiliana o fruto nauseabundo de alguma particular conveniência.
Tem o choro emotivo, singelo, quieto, que nasce de uma cena de filme ou da vida e que costuma passar num piscar de olhos, e o choro triste, mais forte, pesado e complexo, que só costuma cicatrizar com os muitos anos da vida, se não somente no nosso definitivo fechar de olhos.
Há o choro de dor, seja de dor doída ou de dor almada, sendo que este se mostra como quase uma sopa de todos os outros, podendo, inclusive, ser simplesmente uma fase anterior do angustiante desespero esgoelante. Dizem, até, que há o choro fisiológico, aquele que vem da cebola, da fumaça ou da pressão atmosférica e que a ciência médica consegue explicar.
E tem o choro de Pedro Oldoni ao final do jogo desta noite, contra o Vasco, que não se sabe até onde traduzia uma real frustração ou se revestia de conveniente dissimulação pelos dois gols estupidamente perdidos, que nos tiraram a vitória e que só Freud explica.