quarta-feira, 5 de março de 2008

# ricos & mendazes: dedicatórias e agradecimentos


Já a aproveitar este especial dia em que o meu maestro soberano faz 60 anos, convém reproduzir aqui a "dedicatória" e os "agradecimentos" que justa e inesquecivelmente ilustram as páginas inaugurais da obra "Ricos & Mendazes", tese de mestrado recém-lançada pela clássica Editora Almedina e escrita por Rodrigo Gava, (almost ghost) writer deste sideral espaço virtual (compre aqui):

DEDICATÓRIAS

fdsfds "Para Odemir Gava, meu companheiro, meu irmão, meu mentor e, mais do que tudo isso, meu grande herói, cuja magna lição de vida – como pai e como homem – diariamente me inspira;
fdsfds para Leyla, iluminada e amiga mãe, cujo eterno amor (e zelo, e dedicação) será capaz de sempre me trilhar pelos atalhos da felicidade e da bela vida;
fdsfds para Ana Maria, mulher amada, estrela derradeira e minha amiga e companheira, que, fazendo-nos resistir ao desespero e à solidão, tem, de tudo, o meu maior amor atento antes;
fdsfds para Giovana, grande irmã e parceirinha cem por cento, e para Juliana, Alessandra e Gabriela, irmãs e afilhada também amáveis, todas sempre juntas sabendo unir a ação ao sentimento, em carinho, alegria e comprometimento;
fdsfds e, para Luís, meu avô, com quem o destino não me permitiu compartilhar dos mesmos vagões desta vida, mas que certamente faz guardar o esperado encontro para a estação final dessa minha viagem."
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AGRADECIMENTOS
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fdsfds "Agradeço, exponencial e infinitamente, a Deus e ao Seu Filho, pela benção, pela proteção e pela Santa companhia em todos os dias desta empreitada;
fdsfds e, também,
fdsfds agradeço à augusta FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (FDUC), seio de mentes brilhantes e em cujo testamento reside a indelével contribuição para a formação da história e do pensamento jurídico brasileiro, pela oportunidade e pela estrutura proporcionadas no decorrer do Curso e da Investigação, como, também, pelo excelso acolhimento oferecido nesses dezoito meses, interregno no qual as suas dependências serviram-me como um verdadeiro lar;
fdsfds agradeço, de modo singular, ao Professor Catedrático Doutor Manuel Carlos Lopes Porto, uma grande pessoa, pela sapiência jus-econômica com que me orientou, me instigou e me animou nas aulas e nas conversas, pela cordial maneira com que sempre me atendeu neste trabalho – cuja idiossincrasia elegantemente ressalvava – e, ainda, pela complacência em permitir parte do desenvolvimento desta tese em minha terra, uma terra em desenvolvimento;
fdsfds agradeço, em especial, ao Professor Catedrático Doutor António Avelãs Nunes, por ter muito acreditado neste trabalho e em sua publicação e, mormente, pelas brilhantes, críticas e sociais lições de economia política, de globalização e mercado, nas quais sempre mostra a urgente necessidade de ser construído um novo e admirável mundo; também, agradeço ao Professor Doutor Fernando Borges de Araújo, o qual também fez parte do Júri das minhas provas de Mestrado, pelas construtivas críticas e pontuais arguições, as quais se consolidaram como indiscutíveis fontes para a minha reflexão;
fdsfds agradeço, muito, às várias pessoas que contribuíram de alguma forma para a idealização deste trabalho, dentre as quais relevo, da minha ora extendida família, André, Vó Angelina, Tia Dete, Pe. Gabriel, Tio Luizinho, Márcio, Pastor, Tati e tantos outros, pela amizade, o apoio e os muitos gestos e pensamentos positivos; assim como agradeço a alguns dos tantos professores que tive, principalmente aqueles (i) da “Escola de Coimbra”, sobretudo o Prof. Cated. Dr. Diogo Leite de Campos (pelas sábias e precisas reflexões jurídicas e, especialmente, da vida) e o Prof. Dr. Jorge Leite (pelas grandes aulas de um sempre social direito laboral), e, de forma genérica, (ii) do “Colégio Marista Santa Maria”, núcleo da minha primitiva formação humano-acadêmica; e, ainda, ao Prof. Dr. Renato Flôres, da Fundação Getúlio Vargas, pela importante consulta prestada, em um momento chave da elaboração desta dissertação; e, como também não poderia deixar de ser, também sou bastante grato a alguns dos grandes amigos, da nova e velha guardas, que acompanharam – de perto ou de longe – estes escritos, entre eles Bernardo, Daniel, Filipe, Guida, Guilherme, Julian, Lanfredi, Cavali e Samy (a malta de Coimbra), e Chico, Cris, Dayan, Gerson, Jeco, Mauro, Nego, Neto, Raphael e Zappa (a turma de Curitiba), pela dedicada parceria, pelas boas e estranhas idéias e, maiormente, pelas tantas horas de boêmia e discussão mundanal;
fdsfds agradeço, enfim, às diversas obras literárias, cinematográficas e musicais, ora representadas em Kafka, Drummond, Pessoa, Dostoievski, Hitchcock, Buñuel, Vinícius, Chico, Tom, Bach, Tchaikovsky... por terem se apresentado como providenciais acompanhantes neste meu voluntário exílio e, principalmente, por terem sido oportunos escapes, abstrações e inspirações nos momentos de cotidiana angústia e de aridez cerebral;
fdsfds e, neste presente momento, agradeço à EDITORA ALMEDINA, locus das máximas obras da ciências jurídicas portuguesas, que, ao dar crédito a esta tese, permitiu que o abstrato e eremítico tempo de reflexões e estudos no velho mundo fosse, agora, eternamente materializado e publicizado."



# o voo do bigode


Odemir Gava, meu pai, é um homem de muitos causos. 

Sempre saca da manga alguma história pitoresca sobre figuras dos tantos rincões do Brasil por onde viaja.

E, invariavelmente, ele mesmo é um destes personagens.

Hoje, no seu aniversário de 60 anos e para o qual preparamos um grande furdunço na Casa, quero contar uma destas histórias e da qual fiz parte.

Como o maior companheiro de sempre, é notória a presença dele na minha vida, em tudo.

É, em especial, bem conhecida a participação do meu pai na minha vida esportiva da juventude, tanto no futebol de salão, como, em especial, no basquete.

Ia a todos os jogos, frequentava treinos, às vezes viajava junto, era amigo de meus treinadores e companheiros, cobrava dedicação e desempenho, conhecia os adversários. 

E conhecia os árbitros, claro.

Sendo assim, embora jamais tivesse tido intimidade com a "bola laranja", sabia muito bem o que rolava dentro e fora das quadras. 

Estávamos em 1993, semifinal do Campeonato Estadual juvenil de basquete: Santa Mônica, o famoso clube da capital que à época montava grandes times de basquete, e Maringá.

Era uma "melhor de 3", com um jogo no interior e os dois jogos seguintes em Curitiba, por termos a melhor campanha.

No jogo da ida, num sábado à noite, com o Ginásio Chico Neto lotado, vencemos. 

Jogamos bem, fui o cestinha ("às favas, a modéstia") e lembro bem de um grande parceiro, Vinícius Bollauf, que também arrebentou com o jogo.

O jogo da volta foi marcado para o Ginásio do CEFET -- o Santa Mônica não tinha um ginásio próprio e éramos ciganos pelas quadras curitibanas --, ali na Silva Jardim, numa noite fria de quinta-feira.

Tudo indicava uma nova vitória.

Meu pai, claro estava lá: saído do trabalho, de calça, camisa e sapatos sociais -- sapatos, diga-se, que sempre são com taco na sola, nunca borracha: "sapatos bailantes", ele sempre enfatiza).

Antes do jogo, na preleção, o nosso grande treinador Fernando Sanches deu o alerta: um dos árbitros escalados para o jogo era uma conhecida e cretina figura do interior do Estado e que a vida toda tentou nos foder.

O jogo começa.  

E tudo começa a melar.

O tal árbitro segurava o apito nos nossos ataques e deixava-o frouxo nos ataques da equipe de Maringá.

A torcida começava a se irritar.

Para nós nada era falta; para eles, tudo.

Contra mim, em particular, era vale-tudo.

Roubo e sacanagem explícitas.

E a irritação aumentava. 

Terminamos o primeiro tempo atrás no placar e eu com 3 faltas e meia dúzia de pontos. 

Na volta do intervalo, de cara o árbitro apita outra falta minha.

Mais uma e eu estaria eliminado do jogo.

Sento no banco.

E a irritação aumentava cada vez mais.

O clima era terrível.

Perdíamos o jogo e o assalto continuava.

Faltando metade do segundo tempo, retorno à quadra e no ataque seguinte ele apita minha "falta de ataque".

Estou fora!

Foi o estopim.

Meu pai todo piuchado, de modo tresloucado, salta da arquibancada.

Na verdade, ele voa: a altura entre ela e a quadra é de uns de 3 metros.

Ao aterrissar, desequilibra-se por conta dos sapatos (e da altura, claro), torce o pé, sai mancando à caça do árbitro, dá-lhe um direto no queixo e parte pra cima com pontapés aleatórios.

Começa a confusão.

As comissões técnicas e jogadores se digladiam, árbitros e mesa saem para o vestiário, surge a turma do "deixa disso" e os dois PMs que faziam a "segurança" do jogo enfim entram em quadra para dar um basta.

Meu pai é gloriosamente levado para fora do ginásio, aplaudido pela torcida.

Eu e mais três jogadores somos expulsos -- coincidentemente, dois jogadores do banco do Maringá... -- e o jogo reinicia.

Nós acabamos perdendo e a arbitragem pede escolta policial para sair.

No carro a caminho de casa, meu pai é mudo.

Suspenso, não pude jogar o jogo decisivo, no sábado.

E perdemos de novo.

No sacrossanto churrasco de domingo, meu pai enfim rompe o silêncio para repetir a sua icônica frase:

- "Que situação..."