sexta-feira, 1 de julho de 2005

# a saga de ouragan II - a fuga

Ouragan não mais conseguia estabelecer o mais remoto convívio com os seres da tribo Kutoperêra, os quais insistiam em querer co-habitar o feudo ouragane.
De tudo fora feito, seja para impedir a entrada de seus representantes (via barreiras migratórias, rigidez nos tipos de vacina, muros etc.), seja para isolá-los economicamente (mediante embargos comerciais, controle da mídia, racionamento alimentar e de energia etc.). Porém, nada disso surtiu os desejados efeitos e, diante da progressiva gravidade que a situação apresentava, era iminente a eclosão de uma guerra, cujo desenrolar final era nebuloso mas que, provavelmente, resultaria na extinção do feudo ou da tribo, ainda que esta levasse sérias desvantagens em razão de Ouragan apresentar uma população muito maior.
Assim, tudo caminhava... até que onze valentes guerreiros, sob a orientação do marechal Antoine, resolveram mudar. Mesmo a arriscar as suas vidas e com a possibilidade de envergonharem todo um feudo no caso de um imenso fracasso, cujos reflexos seriam de proporções mundiais, mas com o intuito de amenizar a angústia do povo face ao perigo da guerra, decidiram ir aos jogos do fantástico campeonato continental de gamão. Viram. E venceram.
Em toda a região, nunca se teve notícia de coisa igual. O reino Brasilis, assim como todo o vasto continente vespusiano, acompanhava a consolidação da mais nova força do mundo do gamão, advindo de uma terra e de uma região que até então nada tinha, a não ser o bravo povo de Ouragan e outras coisas alhures, como araucárias, moças de bochechas rosadas e velhos.
Contudo, diante de toda a mobilização e do reconhecimento em torno da competência do feudo ouragane, nada fora mais espetacular para o seu povo que o incrível sumiço, o repentino desaparecimento e a insistente escondedura da tribo Kutoperêra, a qual há mais de quarenta dias não mais perturba a paz e o sossego em Ouragan.
Antoine, que além de comandante de guerra é o chefe espiritual de Ouragan, admite não ter usado quaisquer artifícios mágicos ou sobrenaturais para provocar a fuga inimiga; mas sim, confia que tal atitude é resultado da assunção rival às amplas e variadas diferenças que os separa, e os minimiza, do feudo ouragane.
Agora, Ouragan acredita que, destes tempos em diante, nada mais lhe perturbará a ordem social, pois, definitivamente, a tribo rival já encontrou seu espaço, no esquecimento da memória de séculos atrás, cuja distância para o consistente e sustentável presente impossibilita-os de tentarem conviver, ou competir, com o moderno e desenvolvido feudo.
Definitivamente, constataram que o passado foi enterrado.