sexta-feira, 3 de junho de 2005

# a buzina

Os ensinamentos cristãos são de incomensurável valia, indubitavelmente.
Hoje, porém, é freqüente encontrarmos as pessoas a reclamar, a chorar, a protestar, sempre a dizer que nada está bom, que tudo vai mal, que isso, porque aquilo... sem parar para pensar que existe muita gente, uma contingente enorme que está em situação muito pior, aquém mesmo do mínimo vital necessário. O Brasil é um caso crasso disso, chegando à incrível proporção de 1 para 100 na situação extrema. Sabemos que não se faz certo, portanto, reclamar do que temos e não olhar ao redor, pois, se bem atentarmos à realidade, queixamo-nos à toa, sem direito, sem razão. Uma situação triste, provocada pela inescrupulosidade, pela incapacidade gerencial e pelo descomprometimento moral e social dos governantes e avalisado pelo sistema do capital - mas esta parte será discutida em um outro momento.
Eis que, ao final da tarde deste sábado, mas precisamente às dezoito horas, estava eu nas cercanias do estádio couto pereira, quando percebo que as coisas da vida e do homem podem ter uma solução. Sim, foi comovente.
Era uma tarde linda de sol, com calor e vento – um dia agradabilíssimo e ideal para ir à praia, aos parques ou mesmo para um churrasco com drinques até à amdrugada; era a décima rodada do campeonato brasileiro – ou seja, existiam ainda noventa e seis pontos em disputa; era um jogo contra uma equipe de Belém do Pará, o Paysandu – absolutamente nada contra, mas, convenhamos, sem passado e sem presente no mundo da bola.
Todavia, nada disso impediu que trinta mil pessoas la comparecessem, trocassem o ingresso por uma lata de nescau, acompanhassem ao (triste) jogo e na saída, depois da difícil vitória, fizessem uma festa, uma quase arruaça pelas cercanias, com as pessoas a gritar, a sacudir as suas camisolas verde-e-branca e a promover um imenso buzinaço nas principais ruas da capital. Em suma, um comportamento típico de classificação à semifinal de copa do mundo.
Penso estar sonhando, em delírios. Não queria acreditar naquilo. Páro o carro. Encosto-o. Vejo e ouço tudo aquilo. Sinto um enorme constrangimento. Embasbaco-me. Não quero achar estranho, mas não consigo conter-me e, finalmente, defino como lamentável. Um quadro comiserador no qual custo a acreditar.
Até que, quase recomposto, vem uma luz divina, a luz cristã vem repreender-me, a dar-me um basta naqueles meus pensamentos e me fazer enxergar todo o contexto no qual insere-se a presente situação. Faz-me ver os dois cenários mundanais distintos a nos separar. Arrependo-me. Quase choro. Admito o erro, a fraqueza pessoal, a falta de espírito de minha parte. Solidarizo-me.
E até um buzinadinha eu também dou.