sexta-feira, 15 de julho de 2005

# cacos


A leitura feita pela cigana não poderia mostrar um destino diferente, pois, sabiamente, nas linhas tortas da vida tem-se os certos escritos divinos.
 
Por alguns momentos, o mais racional dos seres esquece esta virtude, deixa de tê-la e age, apenas, pela irracional emoção.

Não seria possível, jamais, se permitir a crença gratuita e cega em resultados tão incertos.
 
Ficou inteligível a deficiência técnica do todo, assim como ficou clara a incompetência de alguns, mas nada ficou tão transparente como a certeza da mediocridade estúpida de outros, nomeadamente aquele que não tinha mérito, capacidade ou muito menos moral para cumprir uma missão tão sublime e decisiva, um pênalti que tomou proporções similares àquele cobrado (e errado) pelo galinho de quintino na copa de 86.
 
A noite de quinta-fera trouxe à tona a relativa falácia daquele ditado que diz ser o futebol uma caixinha de surpresas.

Não foi.

Individualmente, com alguma parcialidade, indicar-se-ia um empate técnico entre os goleiros; no mais, uma superioridade adversária vista a olhos nus, que inclusive fez-me indicar este algoz, já há algumas semanas, como o maior candidato ao título nacional deste ano.

Mas, por favor, nada que justificasse, sem qualquer clemência – e o próprio embate foi um exemplo – a queda-livre de quatro, ao vivo, em rede mundial.

Como a vida, o mundo da bola também é impiedoso, cruel e injusto.
 
Hoje, a ressaca mostra o que é perder uma final de copa do mundo particular, quase solitária.

Você não vê o galvão esgoelar-se em choros, você não nota os nordestinos a compor chatos repentes trágicos e você não sente um luto não-oficial de sete dias pela derrota canarinho.
 
Diferente, isolo-me em um desconforto pessoal, individualizado e privado, que contrasta com o sentimento de indiferença de dezenas de milhões de pessoas, ou, pior, com a (recôndita) alegria da outra metade desta cidade e o (tresloucado) êxtase de uma inumerável nação tricolor-paulista.

Não há purgatório, o céu e o inferno estão aqui, lado a lado, em formas unívocas de convivência.
 
Definitiva e sinceramente, é claro que o vice-campeonato é uma bosta.